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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

XÔ! LOUCURA DOIDA


De louco todo mundo tem um pouco. Este velho provérbio até fazia sentido pouco tempo atrás. Do jeito que as coisas andam, por ora será melhor dizer que ‘de louco quase todo mundo tem muito’.
O ritmo desenfreado para cumprir obrigações diárias está levando grande número de pessoas agir como loucas. É só prestar um pouco de atenção e surgem acontecimentos pitorescos no trajeto para a escola, trabalho ou lazer, demonstrando que o equilíbrio já foi quebrado. Temos que pedir aos anjos que nos protejam a cada instante!
Há algum tempo, em São Paulo, eu seguia por avenida de grande movimento ao cair da tarde, com fluxo intenso no sentido bairro quando um veículo, por distração de seu condutor, invadiu uns poucos centímetros a faixa paralela que o separava de outro que trafegava ao lado.
O fato foi corriqueiro, não trazendo qualquer perigo na forma como aconteceu, porque havia espaço suficientemente seguro entre os dois veículos, sem contar que no momento a velocidade estava bem abaixo do permitido. Tudo estaria encerrado se o passageiro do veículo supostamente ameaçado não reagisse tão agressivamente. Gritou, gesticulou e proferiu impropérios ao inocente infrator. Não satisfeito, colocou para fora meio corpanzil através da janela. Os veículos em movimento. Para surpresa de todos que assistiam àquele grotesco espetáculo, atirou sobre o veículo um sapato de salto alto e logo depois mais outro. Não sei de onde sacou aqueles sapatos. Poderia ser uma arma.
Percebi nos veículos mais próximos pessoas rindo, tal como satisfazendo a vontade secreta de agir da mesma maneira. O instinto animal engolindo o humano.
Centenas de outros casos semelhantes, piores ou não, poderiam ser lembrados pelos leitores ilustrando, mais ainda, em que ponto pode chegar essa loucura coletiva.
Não é necessário mergulhar nestes episódios buscando respostas para descobrir se os ímpetos são semelhantes em outras regiões ou países, porque isto fica evidente através das notícias que saturam os meios de comunicação.
No popular, com certa redundância, é uma loucura doida, ou doideira louca: mistura de psicose com alienação, piração com delírio, doidice com insanidade, seja lá o que for.
Se esta loucura é um mal que assola toda a raça humana, pelo que todos os dias assistimos, saber sobre a origem destes distúrbios emocionais ou decifrar sua classificação não importa muito neste momento.
A verdadeira intenção é alertar que antes deste mal nos acometer, existem contaminações que o precedem. É bom perceber os sistemas que regem a vida moderna, seja o de governo, o tecnológico, o financeiro ou de comunicação entre tantos outros, impondo a todos, sem qualquer distinção, certa e propositada submissão que oprime, estressa e leva à loucura.
Estes sistemas utilizam a sutil estratégia de anular, antes de sua investida devoradora, do senso crítico do indivíduo.
Sem o senso crítico fica mais difícil perceber quanto se agita o coração ao ouvir as baboseiras e notícias sobre os desmandos do governo. Sem senso crítico se aceita, sem reação, o atendimento impessoal do sistema de telefonia, que dribla o usuário com a voz virtual e metalizada ditando alternativas. Sem senso crítico, o cliente bancário (em especial o que não aplica grandes somas), submete-se ao papel humilhante e secundário, de reles empregado não remunerado que, diariamente, se presta às funções e práticas que lhe roubam minutos ou horas preciosas da vida, ao mesmo tempo em que é assaltado vergonhosamente nos extratos bancários, por taxas de administração e juros abusivos. 

Sem senso crítico fica difícil desconfiar das facilidades para se adquirir um celular, conseguir um cartão de crédito, crédito pessoal ou fazer crediário. Sem senso crítico se aceita, sem resistência, a ideia falsa disseminada pelo sistema de planos de saúde, de que todos nascem e são condenados perpetuamente para a doença. Enfim, sem senso crítico impera incapacidade de reação e de atitudes de oposição.
Da mesma forma, é bom notar como é quase impossível, depois do envolvimento nestes sistemas, livrar-se deles quando se tenta devolver um produto, renegociar uma dívida, interpretar extratos ambíguos ou provar que as ligações lançadas em conta não deveriam efetivamente estar ali.
Quanto mais cada um se envolver com estes sistemas, mais oprimido e estressado viverá, porque sua vida entrará em processo de repetição de atitudes, compromissos, gestos e ações.
Aquele que cai nas sutis armadilhas preparadas mergulhará em crise profunda de existência, ao perceber que gasta o fruto de seu trabalho para pagar seguros, planos de saúde e dívidas. Que a maior parte de seu tempo é utilizada para administrar o caos imposto por este tipo de vida irreal criada pelos sistemas.
Em cada iniciativa que tomar em busca da liberdade perdida, o indivíduo esbarrará não só nos limites normais impostos pelas leis, mas ficará estático diante das barreiras que são criadas pela burocracia de controle ou por outras geradas pela alta tecnologia.
Se é que existe uma explicação simples para estes surtos de loucuras urbanas, ela estará na opressão sufocante imposta por estas pequenas comodidades que deveriam servir para o bem-estar do ser humano.
Só existe uma maneira de diminuir os surtos de loucuras instantâneas: mesmo não entendendo de filosofia, mesmo que a capacidade de autonomia estiver em baixa, mesmo que as condições sejam adversas, cada um deve provocar uma parada brusca e obrigatória na correria do seu dia-a-dia. 

Colocar-se em atitude de profunda reflexão sobre a vida, a existência e os fatos que a regem, analisando tudo sob nova luz. E, com o que restou do senso crítico, buscar superação e liberdade destas realidades que não são saudáveis e verdadeiras.
Tudo o que é verdadeiramente bom coopera para o bem. Tudo aquilo que não se enquadrar neste princípio, cujo uso ou prática gerar angústias, deve ser abandonado com a mesma simplicidade da criança, que facilmente passa do choro ao riso. 

Xô! Sai pra lá, loucura doida desses nossos tempos.
J. Rubens Alves