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segunda-feira, 25 de maio de 2009

ESCOLHER ENTRE: SER VIRTUAL OU ESPIRITUAL

Passeio Socrático
Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da
Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos,
recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu
observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera
cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos,
geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado
café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro
café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois
modelos produz felicidade?'
Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da
Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos,
recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu
observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera
cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos,
geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado
café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro
café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois
modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e
perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à
tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir
até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...'
'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura,
piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada.
Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de
meditação!'

Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente
equipados, mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo, tinha em 1960, seis
livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias
de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo,
mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.
Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'.
'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!'
Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da
ociosidade amorosa?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu
quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem
nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra!
Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais,
cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais ...

Outra palavra em voga hoje é 'entretenimento'; domingo, então, é o dia
nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil
quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde
diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade,
passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres:
'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa,
comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não
se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, q ue acaba
precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a
neurose.
O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse
condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se
viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são
indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
&nb sp;
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as
cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil,
constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings
centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não
se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de
domingo... E ali dentro, sente-se uma sensação paradisíaca: não há
mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas ...
Entra-se naqueles claustro s ao som do gregoriano pós-moderno, aquela
musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas
aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por
belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos
céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito ou entrar no
cheque especial, sente-se no purgatório.
Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno...

Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na
mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas:
'Estou apenas fazendo um passeio socrático. 'Diante de seus olhares
espantados, explico: 'Sócrates, filósofo Grego, também gostava de
descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando
vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas
o bservando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"

Autor: Frei Betto

UMA REFLEXÃO É SEMPRE UM BEM, INDEPENDE DE QUEM VEM!

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