Certa vez, contei sobre aquela mãe que chorou, no texto "Por Falar em Amor". Mais uma vez reli um texto do Novo Testamento que fala sobre o Amor: 1Cor 13, 1-13.
É bom conferir esse maravilhoso trecho da Bíblia. Parte dele, inclusive, após mesclado com um soneto de Camões, até foi utilizado numa canção da Legião Urbana, ‘Monte Castelo’. De ambos se extrai que Amor é ato generoso e gratuito.
Por isso, o amar é uma arte, um exercício, um processo longo, mas nunca abandonável e inacabável, de transformação.
Quem absorveu essa arte se torna incansável, pelejador, esforçado, com objetivos altivos fixados para alcançar o mais longo tempo que se possa imaginar e, mais ainda, quem sabe dessa arte é humilde e corajoso o bastante para olhar-se no espelho, sem medo de encarar a si mesmo, sem desejar fugir de sua imagem ali refletida ou evadir-se do meio em que está envolvido.
Não dá para passar a existência fazendo hora, à toa, perdendo tempo com frivolidades, amoricos e sonhos irrealizáveis ou principescos, pois esta é muito curta. Refutar, portanto, o comodismo, esforçar-se para viver intensamente o trivial que, em dom, a vida oferece e desejar sempre que seus ideais se fixem nas estrelas, para que estes mesmos se eternizem ao longo do tempo e do espaço: essa é a receita mais adequada para se viver em Amor consigo mesmo e com o outro marcando sua existência na eternidade.
Sim, porque o Amor apenas se consagra em dois ou mais semelhantes que, conjunta e destemidamente, comungarem estes sentimentos. Somos seres volitivos e é preciso ter vontade, antes de aceitar tudo isso que é muito sério.
Ser feliz plenamente em um Amor verdadeiro implica nesta postura de aceitação e em tantos outros atos de vigor, de coragem, renúncias e valentia para a difícil realização de uma vida em sintonia com o semelhante e, acima de tudo, com Deus que, em essência é o puro Amor! Até mesmo aceitar e viver o Amor de Deus é difícil e trabalhoso, porque "Seus pensamentos não são nossos pensamentos e nem Sua vontade é a nossa vontade".
Essa compreensão vale para pais, filhos, esposos e todos os humanos.
O exercício do amor é mais leve e simples para quem aprende a doar-se em espírito, antes ainda do que na carne, porque esta é, naturalmente, finita. É fardo duro para quem não entendeu que, amar é doar-se olvidando esforços contínuos para evitar a cômoda posição de receber, sem retransmitir as mesmas vibrações do amor recebido. A falta de amparo e ajuda mútua na árdua caminhada diária, no chão da lida, é uma antítese a qualquer tentativa de uma vida de Amor entre dois ou mais semelhantes.
Omissão e desinteresse diante dessas exigências que o próprio Amor impõe afeta as estruturas da construção do Santuário do Amor. Amor não combina com egocentrismo e amorfismo. Amor combina com prestimosidade, generosidade, colaboração, trabalho e partilha. Uma pessoa amorosa é desprendida, pluralista e generosa, compreensiva e, além disso tudo, exala alegria com a trivialidade da existência, pois sabe que aí se esconde o Reino de Deus.
Quando alguém recebe uma dádiva de verdadeiro Amor, seja da forma como vier, experimenta o que de mais puro existe naquele que provocou tal centelha.
Se essa combinação tão finita e humana não acontece no chão da terra, isto é com as agruras do dia a dia, será impossível dois caminharem juntos em Amor, pois Amor é o halo de ligação entre o que há de mais trivial na Terra com as bençãos mais divinas do Céu, um mistério tão intenso, que muitos são incapazes de compreender e ficam ao léu, em busca de algo mais grandioso e mais amoldável aos seus gostos, mas que jamais encontrarão, porque esse algo não existe.
Aos que compreendem essas possibilidades, renúncias, esforços apenas como exigências intrínsecas e naturais à prática desse grandioso desafio do amor serão, também, capazes de se sustentarem e se superarem na vida, simplesmente porque sua força e altruísmo lhe são dom divino e nato. Nada é capaz de lhes fazer mal, porque tudo que lhe é adverso, qualquer acontecimento na vida não muito agradável, se torna também uma graça pela qual o Pai do Céu tira algo para acrescentar-lhe outro algo ainda melhor.
Amor jamais será uma obrigação de quem o praticou, mas apenas uma dádiva para quem o partilhou. São reflexões sobre o amor cabíveis para pais, filhos, esposos, todos, inclusive eu e você!
J. R. Rubens
Nenhum comentário:
Postar um comentário