Parei por alguns instantes em um posto de conveniências. Enquanto aguardava meu filho observei, pela janela do veículo, um casal de deficientes visuais, caminhando pela calçada, guiando-se apenas por suas varinhas.
Simpáticos, jovens, esportivamente bem vestidos e com visual bem produzido, homem e mulher caminhavam com habilidade incrível, se desviando de outras pessoas e de pequenos obstáculos, até chegarem ao cruzamento de uma movimentada avenida, onde ficaram aguardando o auxílio de qualquer pessoa.
Percebendo que ninguém os notava, apesar de suas características, desci do carro e rapidamente me dirigi até eles auxiliando-os a atravessar o cruzamento
Em rápida conversa soube, então, que Wellington e Janaína eram casados e que ela esperava um menino para breve, conforme ela mesma disse, 'um fruto de seu amor'. Diante de tanta simpatia, educação e sorrisos, refleti de que a cegueira é a falta de luz, mas os bons fluídos daquele casal eram, todavia, percussores de uma luz interior muito intensa.
Ali estavam como testemunho de que a pior cegueira não é a física porque, mesmo cegos, possuíam uma luz interior que extravasava sua condição humana. Eles eram prova real de que ‘o fruto da verdadeira luz chama-se bondade’, delicadeza e amor, mesmo o corpo sofrendo por uma anomalia como a deles.
Abençoados pela união e agraciados pelo fruto de seu amor, sua cegueira física não os impediu de serem visionários e construtores de uma história de luz .
Os cegos em seu interior só produzem frutos de má qualidade na escuridão porque, por sua própria natureza, abominam a luz. ‘Mantêm suas obras em segredo porque têm vergonha de mostrá-las’. Cabe a cada um escolher que tipo de obras e frutos deseja produzir.
J. Rubens Alves
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